As Hortas Dos Quintais no Norte de Minas
Saiba quais são as principais plantas comestíveis e aprenda mais sobre as hortas do Norte do estado.
Comidas fortes para garantir o sustento do dia de trabalho, e ao mesmo tempo saborosas são a base da cozinha mineira, que tem na sua ruralidade, um dos pilares mais fortes. Hoje vamos falar de um dos braços que ainda sustentam esse pilar: As Hortas.
É de lá que vieram os ora-pro-nobis, as taiobas, a couve do nosso bambá e tropeiro entre tantas outras delícias que combinam para trazer sabor e nutrição às nossas refeições. As hortas, cultivadas nos quintais das casas mineiras representam uma tradição que por aqui dificilmente será abandonada, mesmo com o advento da tecnologia, porque o campo segue dentro do nosso DNA de forma especial, influenciando diretamente no nosso paladar.
Morar num estado extenso, cuja cultura diversa é uma dádiva, nos proporciona experiências gastronômicas ímpares e com as hortas não seria diferente, pra começar a falar desse tema tão saboroso e plural resolvemos começar pelo Norte de Minas, com a ajuda de uma chef que já é de casa, a Bernadete Guimarães.
A Origem da Cozinha do Norte Mineiro
O Norte de Minas Gerais traz nas suas raízes 04 (quatro) culinárias: a sertaneja, a tropeira, a do cerrado e a do garimpo, e ouso dizer que temos mais uma: a cozinha indígena dos nativos habitantes no extremo Norte de Minas, os Xakriabás. Estas raízes carregadas de diversidades se misturam nos sabores e saberes tradicionais.
Uma delas vamos falar hoje que é a “comida de quintal”. Os ovos colhidos da galinha caipira, a horta preparada em “terreiro” (fundo de quintal), em latadas, em pneus velhos, em vasos, cantinhos especiais cuidados com carinho.
As PANC’S (plantas alimentícias não convencionais) crescem espontaneamente nos nossos quintais. Os mangarás (corações ou umbigo) da bananeira, a taioba (também chamada de orelha de elefante), beldroega, caruru, bertalha, ora-pró-nobis, serralha, dentre tantas outras, fazem parte da comida de mato, mas que está logo ali. As famosas garrafadas (preparadas com cachaça e plantas medicinais) da região, tais como quina do cerrado, calunga, sassafrás, barbatimão, carqueja, amburana (usa-se casca e sementes), semente de sucupira, resina de jatobá e tantas outras, que tem fama de trazer virilidade, curar tosse, dar ânimo, dentre tantas curas cantadas e de fama. Temos uma enorme variedade de feijões selvagens (em garrafas PET), que nascem ali no mato, no jardim, no quintal, rodeando nossas hortas e expectativas de chegar a hora de debulhar o feijão verde e o andu!! O ajuntamento gera “causos” e prosas.
E no fim uma farta mesa com o ator principal do dia fazendo parte, sem esquecer, já que tem visita hoje: “Vai na horta menina, vê o que tem e traz pro armoço!!
Óleo e castanha de pequi, óleo e castanha de babaçu, doce de buriti, baru, pimenta de macaco, maracujá do mato, pimenta de cheiro e outras pimentas, nas comunidades, nas pequenas cidades, roças, fazendas, está tão próximo da horta e às vezes dentro dos quintais, que confundem se são das terras ou de dentro da cozinha!!
Tradição e História
As hortas desde a época medieval ocupavam os jardins dos mosteiros que eram usados para plantações com uma finalidade prática, desde aromáticas a plantas medicinais assim como comestíveis. No Brasil com a chegada da família real acompanhando o Rei Dom João VI em 1808, contribuíram decisivamente para a introdução de novos sabores e hábitos na dieta alimentar. “Em vista disso, intensificaram-se o cultivo e o consumo de hortaliças no país.
Até essa época, o uso de hortaliças era insignificante, participando de parte da alimentação das famílias abastadas da colônia”. A introdução de diversas espécies de hortaliças pelos jesuítas e durante o período escravagista, além de diversificar a alimentação nesse período, contribuiu para se tornar parte da nossa alimentação.
Nas pesquisas que estamos fazendo sobre a “Culinára do Garimpo”, na área de Grão Mogol e seu entorno, encontramos que durante o ciclo do ouro no Brasil, século 18, muitos garimpeiros foram atraídos para a região. Com o garimpo em alta as cidades começaram a ficar superlotadas e em decorrência a alimentação começou a ficar escassa. Com a chegada de povos do mundo para estes locais, vieram também costumes que foram espalhados entre os povos e se tornaram costumes locais, que prevalecem até os dias atuais.
Sem espaço nas vilas, perto das minas começaram a surgir pequenas hortas e pomares onde eram plantados alimentos de fácil cultivo, como mandioca, couve, quiabo, milho, feijão e eram criados também animais de pequeno porte e baixo custo de manutenção, como porcos e galinhas.
Apoio e Fortalecimento
A EMATER tem papel importante na região na criação de hortas comunitárias, o cultivo vai além da produção de venda, mas ensina o produtor a consumir e levar para familia e a merenda escolar. A convite da mesma e das técnicas Denise e Ivanete, levamos um curso onde foram ensinados 35 pratos utilizando a produção da horta comunitária de Juramento, disseminamos aos produtores a utilização correta, o reconhecimento de muitas, onde não utilizavam porque não sabiam como e do seu poder nutricional! Trabalho lindo e que conforta a alma!!
Do ponto de vista econômico, hoje a pequena produção das hortas e as hortas comunitárias, a atual consciência das pessoas tem contribuído para a renda familiar através da diminuição dos gastos com alimentação e saúde, das redes de troca e, eventualmente, da transformação e comercialização de excedentes de produção.
Gostou de conhecer mais sobre as hortas do Norte de Minas? A cozinha mineira é um convite a diversas experimentações, entre elas a alimentação saudável, de que certamente as hortas são sinônimo. Que tal começar a pensar numa horta agora mesmo? É a certeza de que com paciência e cuidado, os pratos ficaram ainda mais mineiros, saudáveis e saborosos.
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